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Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
*
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo, sem consulta, sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo, sem consulta, sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
*
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
*
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
do que o ato sem continuação, o ato em si
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
*
Tenho razão de sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mão, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mão, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
*
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da ternura e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
por que o fizeste, porque te foste.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da ternura e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
por que o fizeste, porque te foste.
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Autor: Carlos Drummond
de Andrade
Postado Por: //Anizio.Ds.
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