Certa vez eu entrei no cemitério
Entre os túmulos fiquei a meditar
Procurava os impulsos controlar
Por saber que ali é só mistério
Em pensar que também no necrotério
Outras cenas se podem revelar
Dois lugares que se podem comparar
Por tratar-se da perda de valor
O transporte da morte é sem motor
Pra não ter que parar pra consertar
Neste carro eu não quero viajar
Ele leva e não quer trazer de volta
Se eu andar certo dia é com revolta
Pois no mesmo eu não quero passear
Se um dia por mim ele passar
Eu me viro e não quero nem olhar
Seu trajeto ele pode completar
Seja perto, ou longe, onde for
O transporte da morte é sem motor
Pra não ter que parar pra consertar
Quem andar nesse carro é obrigado
Não falar na viagem de retorno
A bancada é quente como forno
Mesmo assim você tem que está calado
Os amigos que andam do seu lado
Uns aos outros procuram acalentar
O mais próximo começa a relatar
Os seus filhos precisam de um tutor
O transporte da morte é sem motor
Pra não ter que parar pra consertar
No silêncio que tem dentro da cova
Quem partiu desse mundo sentirá
A presença de amigos não terá
Quem está vivo este ato não aprova
Os parentes não servirão de prova
Nada a ele se pode avisar
Quem ficou desse lado é pra rezar
Quem partiu ficará com o senhor
O transporte da morte é sem motor
Pra não ter que parar pra consertar
No final da viagem ninguém fica
Só aquele que está dentro o caixão
Seus amigos que foram voltarão
Esse ato tristonho não se explica
Só quem morre a ele se aplica
Quem está vivo só pode observar
Que quem morre não pode reclamar
Nem pedir para ele um condutor
O transporte da morte é sem motor
Pra não ter que parar pra consertar
Sei que um dia farei esse trajeto
Pra tristeza de filhos e mulher
Viajar nesse carro ninguém quer
Deixarei minha imagem no meu neto
Este grande legado está completo
O meu nome irá perpetuar
Será ele quem vai me completar
Como homem político e professor
O transporte da morte é sem motor
Pra não ter que parar pra consertar
Sei que tudo na vida tem um fim
Não se pode viver para lajeiro
E o tempo não para é bem ligeiro
Nem precisa negar ou dar um sim
Sem querer você vai mesmo assim
Não se pode nem mesmo dialogar
Se previna e ore num altar
Nem precisa você fazer clamor
O transporte da morte é sem motor
Pra não ter que parar pra consertar.
AUTOR: DAVI CALISTO NETO.
Postado por:
//Anizio.Ds. em 29/08/2013
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